Deslumbramentos … Cesário Verde

  Deslumbramentos …  Milady, é perigoso contemplá-laQuando passa aromática e normal,Com seu tipo tão nobre e tão de sala,Com seus gestos de neve e de metal.Sem que nisso a desgoste ou desenfade,Quantas vezes, senguindo-lhes as passadas,Eu vejo-a, com real solenidade,Ir impondo toilettes complicadas!…Em si tudo me atrai como um tesoiro:O seu ar pensativo e senhoril,A … Ler mais

De tarde … Cesário Verde

  De tarde …  Naquele «pic-nic» de burguesas,Houve uma coisa simplesmente bela,E que, sem ter história nem grandezas,Em todo o caso dava uma aguarela.Foi quando tu, descendo do burrico,Foste colher, sem imposturas tolas,A um granzoal azul de grão-de-bicoUm ramalhete rubro de papoulas.Pouco depois, em cima duns penhascos,Nós acampámos, inda o sol se via;E houve talhadas … Ler mais

Eu que sou feio, sólido, leal … Cesário Leal

  Eu que sou feio, sólido, leal …  Eu que sou feio, sólido, leal,A ti, que és bela, frágil, assustada,Quero estimar-te, sempre, recatadaNuma existência honesta, de cristal.Sentado à mesa de um café devasso,Ao avistar-te, há pouco, fraca e loura,Nesta babel tão velha e corruptora,Tive tenções de oferecer-te o braço.E, quando socorreste um miserável,Eu, que bebia … Ler mais

Os que Vinham da Dor … Sebastião Gama

  Os que Vinham da Dor …  Os que vinham da Dor tinham nos olhosestampadas verdades crudelíssimas.Tudo que era difícil era fácilaos que vinham da Dor diretamente.A flor só era bela na raiz,o Mar só era belo nos naufrágios,as mãos só eram belas se enrugadas,aos olhos sabedores e vividosdos que vinham da Dor diretamente.Os que … Ler mais

Somos de Barro … Sebastião Gama

  Somos de Barro …  Somos de barro. Iguais aos mais.Ó alegria de sabe-lo!(Correi, felizes lágrimas,por sobre o seu cabelo!)Depois de mais aquela confissão,impuros nos achamos;nos descobrimosfrutos do mesmo chão.Pecado, Amor? Pecado fôra apenasnão fazer do pecadoa força que nos ligue e nos obriguea lutar lado a lado.O meu orgulho assim é que nos quer.Há … Ler mais

Toada do Ladrão … Sebastião Gama

  Toada do Ladrão …  A mim não me roubaramPorque eu nada tinha.Mas roubaram tudoÀ minha vizinha.Vejam os senhores:Roubaram-lhe a elaA filha mais grácil,A filha mais bela.Nem na sua casa,Nem na freguesia,Sequer no concelho,Melhor não havia.Prendada, bonita…E depois… uns modosDe matar a gente,De prender a todos.Dizia a vizinhaQue era o seu tesoiro;Que valia maisQue a … Ler mais

Meu País Desgraçado … Sebastião Gama

  Meu País Desgraçado …  Meu país desgraçado!…E no entanto há Sol a cada cantoe não há Mar tão lindo noutro lado.Nem há Céu mais alegre do que o nosso,nem pássaros, nem águas …Meu país desgraçado!…Por que fatal engano?Que malévolos crimesteus direitos de berço violaram?Meu Povode cabeça pendida, mãos caídas,de olhos sem fé— busca, dentro … Ler mais

Pequeno poema … Sebastião Gama

  Pequeno poema …  Quando eu nasci,ficou tudo como estava,Nem homens cortaram veias,nem o Sol escureceu,nem houve Estrelas a mais…Somente,esquecida das dores,a minha Mãe sorriu e agradeceu.Quando eu nasci,não houve nada de novosenão eu.As nuvens não se espantaram,não enlouqueceu ninguém…P’ra que o dia fosse enorme,bastavatoda a ternura que olhavanos olhos de minha Mãe…

Soneto … Pensas tu, bela Anarda, que os poetas … Gonçalves Dias

  Soneto … Pensas tu, bela Anarda, que os poetas Pensas tu, bela Anarda, que os poetasVivem d’ar, de perfumes, d’ambrosia,Que vagando por mares d’harmoniaSão melhores que as próprias borboletas?Não creias que eles sejam tão patetas,Isso é bom, muito bom mas em poesia,São contos com que a velha o sono criaNo menino que engorda a … Ler mais

Lira … Gonçalves Dias

  Lira …  Coeur sans amour est un jardin sans fleur.L. HALEVYSe me queres a teus pés ajoelhado,Ufano de me ver por ti rendido,Ou já em mudas lágrimas banhado;Volve, impiedosa,Volve-me os olhos;Basta uma vez!Se me queres de rojo sobre a terra,Beijando a fímbria dos vestidos teus,Calando as queixas que meu peito encerra,Dize-me, ingrata,Dize-me: eu quero!Basta … Ler mais

Canção do Tamoio … Gonçalves Dias

  Canção do Tamoio …  (Natalícia)INão chores, meu filho;Não chores, que a vidaÉ luta renhida:Viver é lutar.A vida é combate,Que os fracos abate,Que os fortes, os bravosSó pode exaltar.IIUm dia vivemos!O homem que é forteNão teme da morte;Só teme fugir;No arco que entesaTem certa uma presa,Quer seja tapuia,Condor ou tapir.IIIO forte, o cobardeSeus feitos invejaDe … Ler mais

O Canto do Piaga … Gonçalves Dias

  O Canto do Piaga …  IO’ Guerreiros da Taba sagrada,O’ Guerreiros da Tribo Tupi,Falam Deuses nos cantos do Piaga,O’ Guerreiros, meus cantos ouvi.Esta noite — era a lua já morta —Anhangá me vedava sonhar;Eis na horrível caverna, que habito,Rouca voz começou-me a chamar.Abro os olhos, inquieto, medroso,Manitôs! que prodígios que vi!Arde o pau de … Ler mais

Que me Pedes … Gonçalves Dias

  Que me Pedes …  Tu pedes-me um canto na lira de amores,Um canto singelo de meigo trovar?!Um canto fagueiro já — triste — não podeNa lira do triste fazer-se escutar.Outrora, coberto meu leito de flores,Um canto singelo já soube trovar;Mas hoje na lira, que o pranto umedece,As notas d’outrora não posso encontrar!Outrora os ardores … Ler mais

A Tempestade … Gonçalves Dias

  A Tempestade …  Quem porfiar contigo… ousaraDa glória o poderio;Tu que fazes gemer pendido o cedro,Turbar-se o claro rio?A. HERCULANOUm raioFulguraNo espaçoEsparso,De luz;E trêmuloE puroSe aviva,S’esquivaRutila,Seduz!Vem a auroraPressurosa,Cor de rosa,Que se coraDe carmim;A seus raiosAs estrelas,Que eram belas,Tem desmaios,Já por fim.O sol despontaLá no horizonte,Doirando a fonte,E o prado e o monteE o céu … Ler mais

Desejo … Gonçalves Dias

  Desejo …  E poi morir.METASTASIOAh! que eu não morra sem provar, ao menosSequer por um instante, nesta vidaAmor igual ao meu!Dá, Senhor Deus, que eu sobre a terra encontreUm anjo, uma mulher, uma obra tua,Que sinta o meu sentir;Uma alma que me entenda, irmã da minha,Que escute o meu silêncio, que me sigaDos ares … Ler mais

O Canto do Guerreiro … Gonçalves Dias

  O Canto do Guerreiro …  IAqui na florestaDos ventos batida,Façanhas de bravosNão geram escravos,Que estimem a vidaSem guerra e lidar.— Ouvi-me, Guerreiros,— Ouvi meu cantar.IIValente na guerra,Quem há, como eu sou?Quem vibra o tacapeCom mais valentia?Quem golpes dariaFatais, como eu dou?— Guerreiros, ouvi-me;— Quem há, como eu sou?IIIQuem guia nos aresA frecha emplumada,Ferindo uma … Ler mais

Marabá … Gonçalves Dias

  Marabá …  Eu vivo sozinha; ninguém me procura!Acaso feituraNão sou de Tupá?Se algum dentre os homens de mim não se esconde,— Tu és, me responde,— Tu és Marabá!— Meus olhos são garços, são cor das safiras,— Têm luz das estrelas, têm meigo brilhar;— Imitam as nuvens de um céu anilado,— As cores imitam das … Ler mais

Pedido … Gonçalves Dias

  Pedido …  Ontem no baileNão me atendias!Não me atendias,Quando eu falava.De mim bem longeTeu pensamento!Teu pensamento,Bem longe errava.Eu vi teus olhosSobre outros olhos!Sobre outros olhos,Que eu odiava.Tu lhe sorristeCom tal sorriso!Com tal sorriso,Que apunhalava.Tu lhe falasteCom voz tão doce!Com voz tão doce,Que me matava.Oh! não lhe fales,Não lhe sorrias,Se então só qu’riasExp’rimentar-me.Oh! não lhe … Ler mais

Olhos Verdes … Gonçalves Dias

  Olhos Verdes…  Eles verdes são:E têm por usança,Na cor esperança,E nas obras não.CAM., Rim.São uns olhos verdes, verdes,Uns olhos de verde-mar,Quando o tempo vai bonança;Uns olhos cor de esperança,Uns olhos por que morri;Que ai de mi!Nem já sei qual fiquei sendoDepois que os vi!Como duas esmeraldas,Iguais na forma e na cor,Têm luz mais branda … Ler mais

Meu Anjo, Escuta … Gonçalves Dias

  Meu Anjo, Escuta … Meu anjo, escuta: quando junto à noitePerpassa a brisa pelo rosto teu,Como suspiro que um menino exala;Na voz da brisa quem murmura e falaBrando queixume, que tão triste calaNo peito teu?Sou eu, sou eu, sou eu!Quando tu sentes lutuosa imagemD’aflito pranto com sombrio véu,Rasgado o peito por acerbas dores;Quem murcha … Ler mais

A Concha e a Virgem … Gonçalves Dias

  A Concha e a Virgem …  Linda concha que passava,Boiando por sobre o mar,Junto a uma rocha, onde estavaTriste donzela a pensar,Perguntou-lhe: — “Virgem bela,Que fazes no teu cismar?”— “E tu”, pergunta a donzela,“Que fazes no teu vagar?”Responde a concha: — “FormadaPor estas águas do mar,Sou pelas águas levada,Nem sei onde vou parar!”Responde a … Ler mais

Juca-Pirama … Gonçalves Dias

  Juca-Pirama …  Meu canto de morte,Guerreiros, ouvi:Sou filho das selvas,Nas selvas cresci;Guerreiros, descendoDa tribo tupi.Da tribo pujante,Que agora anda errantePor fado inconstante,Guerreiros, nasci:Sou bravo, sou forte,Sou filho do Norte;Meu canto de morte,Guerreiros, ouvi.(…)Andei longes terras,Lidei cruas guerras,Vaguei pelas serrasDos vis Aimorés;Vi lutas de bravos,Vi fortes — escravos!De estranhos ignavosCalcados aos pés.E os campos talados,E … Ler mais

Canção do Exílio …. Gonçalves Dias

  Canção do Exílio ….  Minha terra tem palmeiras,Onde canta o Sabiá;As aves, que aqui gorjeiam,Não gorjeiam como lá.Nosso céu tem mais estrelas,Nossas várzeas têm mais flores,Nossos bosques têm mais vida,Nossa vida mais amores.Em cismar, sozinho, à noite,Mais prazer encontro eu lá;Minha terra tem palmeiras,Onde canta o Sabiá.Minha terra tem primores,Que tais não encontro eu … Ler mais

Não me deixes! Gonçalves Dias

  Não me deixes!  Debruçada nas águas dum regatoA flor dizia em vãoÀ corrente, onde bela se mirava:“Ai, não me deixes, não!“Comigo fica ou leva-me contigo“Dos mares à amplidão;“Límpido ou turvo, te amarei constante;“Mas não me deixes, não!”E a corrente passava; novas águasApós as outras vão;E a flor sempre a dizer curva na fonte:“Ai, não … Ler mais

Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros … Gonçalves Dias

  Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros …  Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,De vivo luzir,Estrelas incertas, que as águas dormentesDo mar vão ferir;Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,Têm meiga expressão,Mais doce que a brisa, — mais doce que o nautaDe noite cantando, — mais doce que a frautaQuebrando … Ler mais

Poema da malta das naus … António Gedeão

  Poema da malta das naus …  Lancei ao mar um madeiro,espetei-lhe um pau e um lençol.Com palpite marinheiromedi a altura do Sol.Deu-me o vento de feição,levou-me ao cabo do mundo.pelote de vagabundo,rebotalho de gibão.Dormi no dorso das vagas,pasmei na orla das praisarreneguei, roguei pragas,mordi peloiros e zagaias.Chamusquei o pêlo hirsuto,tive o corpo em chagas … Ler mais

Trovas Para Serem Vendidas … António Gedeão

  Trovas Para Serem Vendidas …  na Travessa de S. DomingosO repórter fotográfico foi ver a fuzilaria.Ganhou o prêmio do anoda melhor fotografia.Notícias não confirmadasinformam, de origens várias,que as tropas revolucionáriasrecentemente cercadasacabam de ser esmagadascom perdas extraordinárias.Na redação do jornalcorre tudo em sobressalto.A hora é sensacional.Toda a gente dormiu mal,gesticula e fala alto.Passageiros recém-chegadosdo lugar … Ler mais

Poema do homem-rã … António Gedeão

  Poema do homem-rã …  Sou feliz por ter nascidono tempo dos homens-rãsque descem ao mar perdidona doçura das manhãs.Mergulham, imponderáveis,por entre as águas tranquilas,enquanto singram, em filas,peixinhos de cores amáveis.Vão e vêm, serpenteiam,em compassos de ballet.Seus lentos gestos penteiammadeixas que ninguém vê.Com barbatanas calçadase pulmões a tiracolo,roçam-se os homens no solosob um céu de … Ler mais

Adeus, Lisboa … António Gedeão

  Adeus, Lisboa …  Vou-me até à Outra Bandano barquinho da carreira.Faz que anda mas não anda;parece de brincadeira.Planta-se o homem no leme.Tudo ginga, range e treme.Bufa o vapor na caldeira.Um menino solta um grito;assustou-se com o apitodo barquinho da carreira.Todo ancho, tremelicacomo um boneco de corda.Nem sei se vai ou se fica.Só se vê … Ler mais

Esta é a Cidade … António Gedeão

  Esta é a Cidade …  Esta é a Cidade, e é bela.Pela ocular da janelafoco o sémen da rua.Um formigueiro se agita,se esgueira, freme, crepita,ziguezagueia e flutua.Freme como a sede bebenuma avidez de garganta,como um cavalo se espantaou como um ventre concebe.Treme e freme, freme e treme,friorento voo de libélulasobre o charco imundo e … Ler mais

Poema do fecho-éclair … António Gedeão

  Poema do fecho-éclair …  Filipe II tinha um colar de oiro,tinha um colar de oiro com pedras rubis.Cingia a cintura com cinto de oiro,com fivela de oiro,olho de perdiz.Comia num pratode prata lavradagirafa trufada,rissóis de serpente.O copo era um gomoque em flor desabrocha,de cristal de rochado mais transparente.Andava nas salasforradas de Arrás,com panos por … Ler mais

Arma secreta … António Gedeão

  Arma secreta …  Tenho uma arma secretaao serviço das nações.Não tem carga nem espoletamas dipara em linha rectamais longe que os foguetões.Não é Júpiter, nem Thor,nem Snark ou outros que tais.É coisa muito melhorque todo o vasto teordos Cabos Canaverais.A potência destinadaàs rotações da turbinanão vem da nafta queimada,nem é de água oxigenadanem de … Ler mais

Lição sobre a água … António Gedeão

  Lição sobre a água …  Este líquido é água.Quando puraé inodora, insípida e incolor.Reduzida a vapor,sob tensão e a alta temperatura,move os êmbolos das máquinas que, por isso,se denominam máquinas de vapor.É um bom dissolvente.Embora com excepções mas de um modo geral,dissolve tudo bem, ácidos, base e sais.Congela a zero graus centesimaise ferve a … Ler mais

Dor de Alma … António Gedeão

  Dor de Alma …  Meu pratinho de arroz docepolvilhado de canela;Era bom mas acabou-sedesde que a vida me trouxeoutros cuidados com ela.Eu, infante, não sabiaas mágoas que a vida tem.Ingenuamente sorria,me aninhava e adormeciano colo da minha mãe.Soube depois que há no mundoumas tantas criaturasque vivem num charco imundoarrancando arroz do fundode pestilentas planuras.Um … Ler mais

Poema do coração… António Gedeão

  Poema do coração…. Eu queria que o Amor estivesse realmente no coração,e também a Bondade,e a Sinceridade,e tudo, e tudo o mais, tudo estivesse realmente no coração.Então poderia dizer-vos:“Meus amados irmãos,falo-vos do coração”,ou então:“com o coração nas mãos”.Mas o meu coração é como o dos compêndios.Tem duas válvulas (a tricúspida e a mitral)e os … Ler mais

Amador sem coisa amada … António Gedeão

  Amador sem coisa amada …  Resolvi andar na ruacom os olhos postos no chão.Quem me quiser que me chameou que me toque com a mão.Quando a angústia embaciarde tédio os olhos vidrados,olharei para os prédios altos,para as telhas dos telhados.Amador sem coisa amada,aprendiz colegial.Sou amador da existência,não chego a profissional.

Poema da auto-estrada … António Gedeão

  Poema da auto-estrada …  Voando vai para a praiaLeonor na estrada pretaVai na brasa de lambreta.Leva calções de pirata,Vermelho de alizarina,modelando a coxa finade impaciente nervura.Como guache lustroso,amarelo de indantrenoblusinha de terilenodesfraldada na cintura.Fuge, fuge, Leonoreta.Vai na brasa, de lambreta.Agarrada ao companheirona volúpia da escapadapincha no banco traseiroem cada volta da estrada.Grita de medo … Ler mais

Impressão digital … António Gedeão

  Impressão digital …  Os meus olhos são uns olhos.E é com esses olhos unsque eu vejo no mundo escolhosonde outros, com outros olhos,não vêem escolhos nenhuns.Quem diz escolhos diz flores.De tudo o mesmo se diz.Onde uns vêem luto e dores,uns outros descobrem coresdo mais formoso matiz.Nas ruas ou nas estradasonde passa tanta gente,uns vêem … Ler mais

Lágrima de preta … António Gedeão

  Lágrima de preta …  Encontrei uma pretaque estava a chorar,pedi-lhe uma lágrimapara a analisar.Recolhi a lágrimacom todo o cuidadonum tubo de ensaiobem esterilizado.Olhei-a de um lado,do outro e de frente:tinha um ar de gotamuito transparente.Mandei vir os ácidos,as bases e os sais,as drogas usadasem casos que tais.Ensaiei a frio,experimentei ao lume,de todas as vezesdeu-me … Ler mais

Dez réis de esperança … António Gedeão

  Dez réis de esperança …  Se não fosse esta certezaque nem sei de onde me vem,não comia, nem bebia,nem falava com ninguém.Acocorava-me a um canto,no mais escuro que houvesse,punha os joelhos á bocae viesse o que viesse.Não fossem os olhos grandesdo ingénuo adolescente,a chuva das penas brancasa cair impertinente,aquele incógnito rosto,pintado em tons de … Ler mais

Poema do alegre desespero … António Gedeão

  Poema do alegre desespero …  Compreende-se que lá para o ano três mil e talninguém se lembre de certo Fernão barbudoque plantava couves em Oliveira do Hospital,ou da minha virtuosa tia-avó Maria das Doresque tirou um retrato toda vestida de veludosentada num canapé junto de um vaso com flores.Compreende-se.E até mesmo que já ninguém … Ler mais