Soneto … Pensas tu, bela Anarda, que os poetas … Gonçalves Dias

  Soneto … Pensas tu, bela Anarda, que os poetas Pensas tu, bela Anarda, que os poetasVivem d’ar, de perfumes, d’ambrosia,Que vagando por mares d’harmoniaSão melhores que as próprias borboletas?Não creias que eles sejam tão patetas,Isso é bom, muito bom mas em poesia,São contos com que a velha o sono criaNo menino que engorda a … Ler mais

Canção do Tamoio … Gonçalves Dias

  Canção do Tamoio …  (Natalícia)INão chores, meu filho;Não chores, que a vidaÉ luta renhida:Viver é lutar.A vida é combate,Que os fracos abate,Que os fortes, os bravosSó pode exaltar.IIUm dia vivemos!O homem que é forteNão teme da morte;Só teme fugir;No arco que entesaTem certa uma presa,Quer seja tapuia,Condor ou tapir.IIIO forte, o cobardeSeus feitos invejaDe … Ler mais

Lira … Gonçalves Dias

  Lira …  Coeur sans amour est un jardin sans fleur.L. HALEVYSe me queres a teus pés ajoelhado,Ufano de me ver por ti rendido,Ou já em mudas lágrimas banhado;Volve, impiedosa,Volve-me os olhos;Basta uma vez!Se me queres de rojo sobre a terra,Beijando a fímbria dos vestidos teus,Calando as queixas que meu peito encerra,Dize-me, ingrata,Dize-me: eu quero!Basta … Ler mais

O Canto do Piaga … Gonçalves Dias

  O Canto do Piaga …  IO’ Guerreiros da Taba sagrada,O’ Guerreiros da Tribo Tupi,Falam Deuses nos cantos do Piaga,O’ Guerreiros, meus cantos ouvi.Esta noite — era a lua já morta —Anhangá me vedava sonhar;Eis na horrível caverna, que habito,Rouca voz começou-me a chamar.Abro os olhos, inquieto, medroso,Manitôs! que prodígios que vi!Arde o pau de … Ler mais

Que me Pedes … Gonçalves Dias

  Que me Pedes …  Tu pedes-me um canto na lira de amores,Um canto singelo de meigo trovar?!Um canto fagueiro já — triste — não podeNa lira do triste fazer-se escutar.Outrora, coberto meu leito de flores,Um canto singelo já soube trovar;Mas hoje na lira, que o pranto umedece,As notas d’outrora não posso encontrar!Outrora os ardores … Ler mais

A Tempestade … Gonçalves Dias

  A Tempestade …  Quem porfiar contigo… ousaraDa glória o poderio;Tu que fazes gemer pendido o cedro,Turbar-se o claro rio?A. HERCULANOUm raioFulguraNo espaçoEsparso,De luz;E trêmuloE puroSe aviva,S’esquivaRutila,Seduz!Vem a auroraPressurosa,Cor de rosa,Que se coraDe carmim;A seus raiosAs estrelas,Que eram belas,Tem desmaios,Já por fim.O sol despontaLá no horizonte,Doirando a fonte,E o prado e o monteE o céu … Ler mais

Desejo … Gonçalves Dias

  Desejo …  E poi morir.METASTASIOAh! que eu não morra sem provar, ao menosSequer por um instante, nesta vidaAmor igual ao meu!Dá, Senhor Deus, que eu sobre a terra encontreUm anjo, uma mulher, uma obra tua,Que sinta o meu sentir;Uma alma que me entenda, irmã da minha,Que escute o meu silêncio, que me sigaDos ares … Ler mais

Marabá … Gonçalves Dias

  Marabá …  Eu vivo sozinha; ninguém me procura!Acaso feituraNão sou de Tupá?Se algum dentre os homens de mim não se esconde,— Tu és, me responde,— Tu és Marabá!— Meus olhos são garços, são cor das safiras,— Têm luz das estrelas, têm meigo brilhar;— Imitam as nuvens de um céu anilado,— As cores imitam das … Ler mais

O Canto do Guerreiro … Gonçalves Dias

  O Canto do Guerreiro …  IAqui na florestaDos ventos batida,Façanhas de bravosNão geram escravos,Que estimem a vidaSem guerra e lidar.— Ouvi-me, Guerreiros,— Ouvi meu cantar.IIValente na guerra,Quem há, como eu sou?Quem vibra o tacapeCom mais valentia?Quem golpes dariaFatais, como eu dou?— Guerreiros, ouvi-me;— Quem há, como eu sou?IIIQuem guia nos aresA frecha emplumada,Ferindo uma … Ler mais

Pedido … Gonçalves Dias

  Pedido …  Ontem no baileNão me atendias!Não me atendias,Quando eu falava.De mim bem longeTeu pensamento!Teu pensamento,Bem longe errava.Eu vi teus olhosSobre outros olhos!Sobre outros olhos,Que eu odiava.Tu lhe sorristeCom tal sorriso!Com tal sorriso,Que apunhalava.Tu lhe falasteCom voz tão doce!Com voz tão doce,Que me matava.Oh! não lhe fales,Não lhe sorrias,Se então só qu’riasExp’rimentar-me.Oh! não lhe … Ler mais

Olhos Verdes … Gonçalves Dias

  Olhos Verdes…  Eles verdes são:E têm por usança,Na cor esperança,E nas obras não.CAM., Rim.São uns olhos verdes, verdes,Uns olhos de verde-mar,Quando o tempo vai bonança;Uns olhos cor de esperança,Uns olhos por que morri;Que ai de mi!Nem já sei qual fiquei sendoDepois que os vi!Como duas esmeraldas,Iguais na forma e na cor,Têm luz mais branda … Ler mais

Meu Anjo, Escuta … Gonçalves Dias

  Meu Anjo, Escuta … Meu anjo, escuta: quando junto à noitePerpassa a brisa pelo rosto teu,Como suspiro que um menino exala;Na voz da brisa quem murmura e falaBrando queixume, que tão triste calaNo peito teu?Sou eu, sou eu, sou eu!Quando tu sentes lutuosa imagemD’aflito pranto com sombrio véu,Rasgado o peito por acerbas dores;Quem murcha … Ler mais

A Concha e a Virgem … Gonçalves Dias

  A Concha e a Virgem …  Linda concha que passava,Boiando por sobre o mar,Junto a uma rocha, onde estavaTriste donzela a pensar,Perguntou-lhe: — “Virgem bela,Que fazes no teu cismar?”— “E tu”, pergunta a donzela,“Que fazes no teu vagar?”Responde a concha: — “FormadaPor estas águas do mar,Sou pelas águas levada,Nem sei onde vou parar!”Responde a … Ler mais

Juca-Pirama … Gonçalves Dias

  Juca-Pirama …  Meu canto de morte,Guerreiros, ouvi:Sou filho das selvas,Nas selvas cresci;Guerreiros, descendoDa tribo tupi.Da tribo pujante,Que agora anda errantePor fado inconstante,Guerreiros, nasci:Sou bravo, sou forte,Sou filho do Norte;Meu canto de morte,Guerreiros, ouvi.(…)Andei longes terras,Lidei cruas guerras,Vaguei pelas serrasDos vis Aimorés;Vi lutas de bravos,Vi fortes — escravos!De estranhos ignavosCalcados aos pés.E os campos talados,E … Ler mais

Canção do Exílio …. Gonçalves Dias

  Canção do Exílio ….  Minha terra tem palmeiras,Onde canta o Sabiá;As aves, que aqui gorjeiam,Não gorjeiam como lá.Nosso céu tem mais estrelas,Nossas várzeas têm mais flores,Nossos bosques têm mais vida,Nossa vida mais amores.Em cismar, sozinho, à noite,Mais prazer encontro eu lá;Minha terra tem palmeiras,Onde canta o Sabiá.Minha terra tem primores,Que tais não encontro eu … Ler mais

Não me deixes! Gonçalves Dias

  Não me deixes!  Debruçada nas águas dum regatoA flor dizia em vãoÀ corrente, onde bela se mirava:“Ai, não me deixes, não!“Comigo fica ou leva-me contigo“Dos mares à amplidão;“Límpido ou turvo, te amarei constante;“Mas não me deixes, não!”E a corrente passava; novas águasApós as outras vão;E a flor sempre a dizer curva na fonte:“Ai, não … Ler mais

Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros … Gonçalves Dias

  Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros …  Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,De vivo luzir,Estrelas incertas, que as águas dormentesDo mar vão ferir;Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,Têm meiga expressão,Mais doce que a brisa, — mais doce que o nautaDe noite cantando, — mais doce que a frautaQuebrando … Ler mais